domingo, 12 de novembro de 2017

Pérolas Históricas de Esmoriz XVIII - Abade Pinheiro, o homem que tocou o coração dos esmorizenses


"Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos; nos outros, apenas duramos".


Padre António Vieira
(1608-1697)


Os primeiros párocos registados documentalmente para Esmoriz encontram-se datados já no século XIII. Ali surgem os nomes de Soeiro Mendes (1251) e de Afonso Peres (1258) como representantes religiosos da nossa comunidade. Embora a instituição de um templo cristão no seio do nosso povoado deva ser anterior a este século, a verdade é que as poucas fontes existentes acabam por silenciar potenciais testemunhos anteriores.
Desde então, passaram-se vários séculos, e Esmoriz sempre foi representado por padres, uns mais amados pelo povo, outros apenas respeitados e ainda alguns que ocasionaram controvérsia e polémicas desnecessárias. Felizmente, hoje iremos traçar a biografia de um homem de Deus que se enquadrava na primeira categoria e cujo legado religioso e civil deixaria saudades aos próprios esmorizenses.
Referimo-nos a José António da Costa Pinheiro, nascido no concelho de Amarante, mais concretamente na localidade de Aboadela de Ovelha do Marão, no ano de 1837. Era filho de Manuel da Costa Alves Pinheiro e Maria Gonçalves de Miranda. Sabe-se que teria ainda um primo influente - o Dr. António Cândido Ribeiro da Costa - o qual viria a ser conselheiro e procurador-geral da Coroa, além de ter ocupado outros cargos de relevo. 
Naqueles tempos mais turbulentos e até com o advento do liberalismo (o qual se traduziu, por vezes, em alguns afrontamentos às instituições religiosas), nada impediria José António da Costa Pinheiro de seguir o chamamento divino. Estudaria teologia em Lamego, onde obteve a formação necessária. Finalmente, em 24 de Março de 1860, foi ordenado presbítero por D. José de Moura Coutinho. Seria coadjutor em Candemil (Amarante), abade encomendado em S. Salvador de Bilhó (Mondim de Basto) e assumiria também funções religiosas em Rebordelo (Amarante). 
Entre os anos de 1890 e 1891, chegaria a oportunidade de paroquiar a freguesia de Esmoriz. No entanto, não seria fácil a sua nomeação para tal posição religiosa naquela terra. Ao todo, teve que levar a melhor sobre 21 opositores, distribuídos por várias dioceses - Porto, Braga, Viseu, Lisboa, Beja (...), e que se apresentaram a concurso.
Em 24 de Janeiro de 1891, o Abade Pinheiro receberia um decreto do rei D. Luís, sendo finalmente oficializado como Pároco de Esmoriz. Ali se manterá em funções até 22 de Dezembro de 1903, totalizando assim entre 12 a 13 anos de serviço pastoral em prol da nossa comunidade. Também presidiria à Junta de Paróquia numa boa parte desses anos em que cá esteve.
Alexandre Castro Soares, célebre fundador do Jornal A Voz de Esmoriz e citado pelo Padre Aires de Amorim na sua monografia, descreve-o nas suas "lições do passado" da seguinte forma:


"O abade Pinheiro conquistara Esmoriz pelo coração. Era um velhinho bastante reservado a manifestações, sem dotes oratórios, mas de carácter impoluto e homem de acção, de antes quebrar que torcer (...) Fazia gosto ouvi-lo nas suas meiguices com as crianças, pregando-lhes pequenas partidas, para depois premiá-las com bolos".


A gratidão do povo pescador e tanoeiro acabaria por se concretizar através gestos práticos. No ano de 1902, Pedro Lopes Barbosa endereçou-lhe um ofício, tendo sido anexada uma salva de prata, com o peso de 2,750 kg, oferta de alguns paroquianos, e a qual viria a ser requerida para uso exclusivo da nossa Igreja. De acordo com tal documento, esta foi uma homenagem por todo o amor, carinho, prudência e caridade que havia então o abade Pinheiro revelado diante da comunidade de Esmoriz. 
Enquanto líder religioso e presidente da Junta de Paróquia de Esmoriz, o abade Pinheiro foi responsável:

  • Pela reedificação da Igreja Matriz que até então ameaçava ruína (não é por acaso que à entrada deste templo principal de Esmoriz exista uma inscrição a aludir à reabilitação de 1895).
  • Pela permissão legal do aforamento de terrenos localizados no lugar da Marinha. 
  • Pela conclusão da Estrada dos Castanheiros que tinha até então ficado parada na Torre, embora aqui tivesse de apelar à ajuda do Estado para que o processo avançasse até ao fim.
  • Pelo início do projecto de construção da Avenida da Praia.

Também a proximidade influente do seu primo e procurador da Coroa - o Dr. António Cândido - poderá ter sido determinante para o agilizar de alguns empreendimentos. Aliás, este último costumava visitar a nossa terra e a sua residência paroquial durante as principais festividades de Esmoriz ocorridas a cada ano.
Como disséramos anteriormente, o Abade Pinheiro retirar-se-ia da Paróquia de Esmoriz em finais de 1903, e logo no ano seguinte, abandonaria também a Junta de Paróquia da mesma localidade. 
Regressaria a Amarante, onde serviu de capelão da irmandade dos clérigos de São Pedro. Talvez relacionada de algum modo com esta última experiência, o Abade Pinheiro alcançaria a distinção honorífica de "capelão fidalgo da Casa Real", sinal de que a sua personalidade fez ecoar o seu prestígio até outros patamares. 
A sua morte seria anunciada pelos jornais a 11 de Agosto de 1918.
Em Esmoriz, muitos se recordaram ainda, naquela data, do seu coração bondoso e da sua obra que foi imprescindível para a evolução da já velha aldeia que espreitava outros patamares de desenvolvimento.



Resultado de imagem para igreja matriz esmoriz foto antiga

Imagem nº 1 - A Igreja Matriz de Esmoriz em 1915. A sua reedificação ocorrera em 1895. O Abade Pinheiro aqui professou entre 1891 e 1903.
Autor Desconhecido




Imagem nº 2 - António Cândido Ribeiro da Costa (1850-1922), primo do Abade Pinheiro, foi Procurador da Coroa, Orador Parlamentar, Ministro do Reino, Conselheiro Real e esteve ainda ligado ao Grupo Literário dos "Vencidos Pela Vida" juntamente com Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, entre outros. Fez algumas visitas a Esmoriz, quando o seu primo aqui paroquiava. Possivelmente, terá também intercedido nos bastidores e nalguns dossiers a favor dele e a da comunidade esmorizense.
Retirada do Wikipédia


Nenhum comentário:

Postar um comentário