terça-feira, 10 de novembro de 2015

Os Fait-Divers da "Questão Síria"

Não querendo ser, desde logo, mal interpretado, deixarei aqui algumas considerações prévias. Como é óbvio, desejo que o povo sírio encontre a paz e a harmonia que lhe foram furtadas pelo Estado Islâmico e pelo regime ditatorial de Bashar al-Assad. No entanto, isso só será possível através do envio duma força internacional de paz para a região, de forma a travar a barbárie e permitir assim a reconstrução urgente dum país destroçado. Não há outra saída possível! E sim, penso que esta preocupação excessiva em torno dos refugiados não passa duma "hipocrisia" de alguns países ocidentais que são até (pasmem-se!) os maiores fornecedores de armamento para a região. Porque é que ninguém desmascara as indústrias de armamento que alimentam este conflito? Os poderes ocultos e a obsessão pelo lucro justificam tudo? A quem interessa ver a Síria arruinada e descredibilizada? Curioso que quase ninguém fez estas perguntas a quem de direito.
Apesar de tudo isto, defendo que se deva dar a mão aos refugiados, permitindo a integração destes nas sociedades europeias através da oferta de uma casa (com condições mínimas/dignas, e não habitações que a maior parte dos portugueses nem sequer usufrui), emprego e de uma formação inicial que lhes permita aprender a língua e os costumes do país onde eles passarão a viver. Até aqui penso que todos concordarão comigo. 
O problema é quando a generosidade atinge limites incompreensíveis. Li algures que os refugiados terão acesso a muitas regalias que nem os próprios portugueses têm direito. Um desses privilégios poderá estar com o acesso gratuito a algumas universidades, o que a confirmar-se, se tornará numa afronta para muitas famílias portuguesas que fazem sacrifícios diários para pagarem as elevadas propinas do ensino superior público de modo a tentarem assegurar um futuro (ainda assim, brumoso) para os seus filhos. Onde está aqui o princípio do tratamento igualitário? 
Enquanto toda esta cortesia acontece, há milhares de portugueses que passam fome ou que não têm tecto, mas talvez isso já não seja tão importante detalhar. Porque é que estes "portugueses" são diferentes dos sírios? Percebem agora porque é que eu sinto que isto é uma tremenda hipocrisia? Repito - o problema da Síria resolve-se na Síria, e é inadmissível como é que a ONU deixou arrastar este conflito macabro por tanto tempo. O fluxo migratório vai aumentar nos próximos anos, e infelizmente, novas tragédias continuarão a ocorrer nas rotas sinuosas que os migrantes seguem desesperadamente para fugir ao conflito. Pelos vistos, a morte trágica daquela criança curda (Aylan) que comoveu o mundo ainda não foi suficiente para abrir os olhos dos principais líderes mundiais. A Síria tem de voltar a ser livre e a viver em harmonia, e é exactamente aí que se tem de concentrar a ajuda externa (militar e solidária). É imperioso que se envie uma força internacional de paz (constituída por diversos países, ocidentais e orientais, laicos, cristãos e muçulmanos) e se assegure um elevado abastecimento alimentar, este alcançado através de donativos ou de eventos solidários a realizar por todo o mundo.
A Síria está a auto-destruir-se, e o Ocidente finge ser amigo daqueles que conseguem escapar com sucesso, mas está a ser cúmplice (através da sua inércia e passividade; e com a temática controversa do armamento pelo meio) do terror que percorre as ruas de qualquer povoação daquele país.
Este texto não pretende ser, de algum modo, xenófobo ou racista, mas alertar somente os cidadãos para aquilo que são fait-divers que nos afastam do cerne da questão - a guerra na Síria que continua implacavelmente. Volto a perguntar - A quem interessa este status quo?





Imagem nº 1 - A Guerra na Síria tem assumido proporções maquiavélicas perante a inércia do Ocidente e das grandes instituições internacionais.

2 comentários:

  1. Olá
    Quanto vai Portugal receber por cada refugiado que se instale no nosso país?
    Cumprs
    Augusto

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    1. Boa tarde,

      Ora pois, amigo Augusto. Bem visto... Ainda há essa!

      Um abraço

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