sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mas quem seria o cavaleiro Ermerico?????

Para que consigam compreender o sentido deste nosso artigo, passo a citar o seguinte excerto da autoria de Aires de Amorim:

"Nestes tempos de luta, chegavam os cavaleiros da reconquista cristã a dar seu nome às vilas, tomadas na presúria. Após a expulsão dos árabes, a coroa ásture-leonesa reivindicou seus direitos senhoriais, tornando reguengas as propriedades do dominus e dando a independência às subunidades que passaram a pagar as pensões ao rei. Foi neste período de luta que se perdeu o nome romano da nossa vila e a sua unidade, sendo substituído pelo nome dos possuidores neo-germanos. E assim passou a chamar-se villa Ermorici e villa Gundesindi, nomes dos cavaleiros Ermerico e Gundesindo. Outros topónimos astures-leoneses, de origem germânica: Gonce, Mourão e formal" (Esmoriz e a sua História, p. 17-18)

No que diz respeito a Gundesindo, podemos dizer que está devidamente documentado no século IX. Trata-se dum conde com inúmeras propriedades e detentor dum admirável zelo religioso. Terá mesmo fundado alguns mosteiros, como o de Azevedo (S. Vicente de Pereira) e Sanguedo (Santa Maria da Feira). As outras indicações que conseguimos depreender parecem reflectir o peso da sua família na região. Parecia ser alguém influente. Por isso, estamos perante um cavaleiro do tempo da Reconquista Cristã que terá dado o nome ao lugar de Gondesende (com "s" e não com "z").



Imagem nº 1 - O Conde D. Gundesindo terá fundado alguns mosteiros na nossa região.


Até aqui, creio que não há nenhuma novidade. O problema começa em torno do cavaleiro Ermerico, o tal que terá originado o nome de Esmoriz. Pesquisei pela sua existência, tanto em manuais como pela via da informática, mas sempre com resultados nulos. Se, de facto, existiu um nobre que se destacou com esse nome, durante o período de Reconquista Cristã, então a teoria de Aires de Amorim é perfeitamente plausível. E aí o problema passa mesmo por continuar a pesquisar até conseguir referência ao nome de tal aristocrata. O máximo que consegui encontrar foi um "Ermerico" da Ordem do Hospital, no século XII (mais concretamente em 1177), que parecia ter propriedades no reino de Aragão (terá sido aí comendador?). Isto diz-nos Luis Garcia Guijarro Ramos no artigo "The aragonese hospitaller Monastery of Sigena; its Early Stages: 1188-1210"). Mesmo assim, não consigo estabelecer uma conexão entre esta personalidade e a nossa região. Não deve ser o Ermerico que realmente procuramos, embora tal indicie que este nome conhecesse alguma divulgação na época e por isso, deveriam existir combatentes da Fé de Cristo com tal designação.
Todavia, houve um Ermerico que marcaria a história da Península Ibérica, mas esse era anterior aos tempos da Reconquista Cristã que se desenrolariam entre os séculos VIII-XIII (no caso português). Estou a referir-me ao rei suevo que instalou o seu domínio no Noroeste Peninsular entre os anos de 409 e 438 d.C. Foi ele quem trouxe o seu povo desde o Reno até à Península Ibérica, assentando domínio na Galécia (incorporava a Galiza e o Norte de Portugal). Nos primeiros tempos, os suevos foram algo aterradores e violentos para azar dos hispano-romanos que aí viviam. O rei Ermerico teve ainda que travar batalhas com outros povos bárbaros que se haviam intrometido na Península Ibérica, nomeadamente os alanos e os vândalos. Com algumas dificuldades, lá conseguiu defender os interesses do seu povo. Entretanto, Braga (Bracara Augusta) torna-se a capital do novo reino.




Imagem nº 1 - O reino suevo da Galécia (Noroeste da Península Ibérica). Os bascos e sobretudo, os visigodos eram os principais concorrentes pelo domínio peninsular. O reino suevo seria mesmo absorvido pelos visigodos em 585 d.C.


Ou seja, e tendo em conta este mapa, a cidade de Esmoriz foi incorporada no reino Suevo, tendo sido posteriormente anexada em 585 d.C. pelos visigodos que extinguiriam este Estado fundado em 409 ou 411 d.C. por Ermerico. 
De facto, é possível que Esmoriz pudesse ser logicamente designado como uma "villa de Ermerico", em tributo ao fundador deste novo reino peninsular. O mesmo podemos dizer de terras que possuam nomes semelhantes à nossa - São Cristóvão de Armariz (Ourense, Espanha), São Salvador de Armariz (Ourense, Espanha), Santa Marinha de Esmeriz (Lugo, Espanha),  Almoriz (Viana do Castelo), Esmorigo (Ponte de Lima), Esmoriz (Marco de Canaveses), Esmeriz (Braga)... Todos estes topónimos estão também alegadamente conotados com o nome do rei suevo Ermerico.
O historiador Armando Almeida Fernandes, no blog/jornal electrónico - João da Semana, chegou mesmo a suspeitar que o rei suevo Ermerico ou Ermenerico possa ter vivido, em algum momento, na nossa terra. Aliás, ele defende mesmo que essa possibilidade deveria ser estudada.
É claro que tal seria entrar no campo da fantasia, mas a verdade é que esta é mesmo alimentada por uma época em que os documentos existentes seriam quase nulos (a escrita estava muito pouco divulgada, a maior parte esmagadora da população era analfabeta, nem todos os ínfimos documentos se conservaram até aos dias de hoje...). Dentro deste contexto adverso para qualquer estudioso, concluímos humildemente que pouco sabemos sobre Ermerico.
É certo que, num acto invulgar na época, ele abdicará do trono em 438 favorecendo o seu filho Réquila. Morre, de forma natural, em 441. Será que nos últimos 3 anos de vida se ausentou da capital Braga, procurando um espaço mais calmo???? Não o sabemos. Provavelmente, Esmoriz teria uma pequena comunidade, sendo apelativa pela sua paisagem (a Barrinha). Talvez, seria um local aprazível para passar os seus últimos dias, quando já revelava problemas de saúde.
Para além disto, convém referir que ainda há a necrópole bárbara que, apesar das inumações pobres, conheceria dimensões bastante interessantes. Seria uma estrutura sueva ou visigótica? E qual o seu significado? Será que Esmoriz teria conhecido uma maior importância durante o período suevo e/ou visigótico?
Provavelmente, se existiu uma clara evolução, é evidente que a mesma terá ficado comprometida com as invasões muçulmanas de 711 d.C., isto já para não falar da imediata reacção cristã. Durante este processo repleto de hostilidades, muitas comunidades desertaram e abandonaram as terras à mercê dos inimigos...
Em suma, nós não sabemos se o "cavaleiro Ermerico", que Aires de Amorim parece conotar com a Reconquista Cristã, existiu mesmo na nossa região. O termo neo-germano (expresso no excerto citado) significa, neste caso, os sucessores/novos combatentes face ao ataque do Islão. Por outras palavras, tratam-se dos cristãos que se tornariam nos verdadeiros sucessores dos visigodos/suevos. Por isso, parece que não pode haver um duplo sentido nas afirmações expostas em cima por parte parte de Aires de Amorim.
Agora a nossa questão é mesmo esta - quem seria então esse cavaleiro Ermerico???? Se não existem dados e seguindo o entender de Armando Almeida Fernandes, não terá alguma lógica associar o nome de Esmoriz ao primeiro rei Suevo da Península Ibérica? E a misteriosa necrópole que poderá conter 60 ou 70 sepulturas (apenas 24 foram encontradas) não esconderá alguma novidade bombástica?
Pois bem, não sei se estou a delirar, ou se finalmente, estaremos a atingir um padrão até então nunca abordado...





Imagem nº 2 - Os suevos costumavam ser bastante violentos e intolerantes para com as populações autóctones.



Fontes Consultadas:

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