sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Toponímia II - Praça de São Luís (junto à Avenida da Praia)

Da última vez, falamos do poeta Boanerges Cunha, um homem natural da nossa terra que se distinguiu nas letras. Hoje, abordaremos a personalidade de São Luís que, ao contrário da personagem anterior, não é oriundo da nossa terra. Aliás, Esmoriz nunca teve até agora qualquer santo que lhe fosse natural. Certo é que este reputado "estrangeiro" mereceu ter uma praça em seu nome na nossa localidade.
Obviamente, colocamos nas redes sociais esta questão e obviamente voltamos a prometer um chocolate (em sentido figurado) e após muitas tentativas e 2 dias de reflexão, os leitores Rosa Rocha e EsmorizPortugal acertaram no nome. É claro que lhes tive de dar umas pistas porque não estava fácil adivinhar tal enigma. 


São Luís, Rei da França


Entre os anos de 1214-1215, Luís nascia em Poissy. Durante a sua infância, teve uma educação bastante religiosa, sendo educado pelos melhores preceptores do reino francês. No ano de 1226, subia finalmente ao trono (devido à morte de seu pai - Luís VIII), tendo apenas 12 anos de idade!!! Contudo, a sua mãe - Branca de Castela assumiria a regência, assegurando a protecção do novo rei. Em 1234, Luís IX alcança a maioridade e assume, na prática, os destinos do reino.
Durante o seu reinado, preocupou-se com os mais pobres, reforçou a importância da religião cristã para a salvação humana, proibiu o jogo, a prostituição e a blasfémia. Graças ao seu espírito e empenho religioso, conseguiu edificar várias catedrais (Capela de Sainte-Chapelle - Paris, Amiens, Rouen, Beauvais, Auxerre, Saint-Germain-en-Laye).
Entretanto, no ano de 1244, Luís IX está bastante doente. Muitos dão como quase certa a sua morte. O rei sofre de disenteria. O monarca fez então um voto: caso sobrevivesse partiria em cruzada para libertar Jerusalém que tinha caído recentemente nas mãos dos muçulmanos. Os cristãos do Oriente sentiam-se ameaçados pelo poderio dos turcos, egípcios e mamelucos. 
De facto, São Luís recuperaria da grave doença e cumpriria a sua promessa. Era a Sétima Cruzada. Em 1248, avança rumo ao Egipto, cujo controlo seria fundamental para depois avançar, com maior segurança, para os Lugares Santos na Palestina.  Apesar da conquista de Damieta, os cruzados seriam derrotados em Mansurah (1250), o que levou à retirada das tropas cristãs. O rei francês e muitos dos seus soldados acabariam por ser detidos mais tarde, através dum boato lançado por um traidor que tinha dito que o rei já se tinha rendido (mentira que fez com que muitos cavaleiros franceses se tivessem rendido, caindo no bluff). Todos eles estiveram presos por algum tempo, até devolverem Damieta e assegurarem a vinda de muito dinheiro de França que pagaria o resgate dos prisioneiros cristãos no Egipto. Após a libertação, o rei Luís IX dirigiu-se à Palestina e  investiu ainda importantes somas, assegurando a consolidação e o refortalecimento dos castelos de São João de Acre, Cesareia, Jaffa e Sídon, possessões que, na altura, ainda estavam nas mãos dos cristãos. No ano de 1253, deixa o Oriente e regressa à França, pois a sua mãe regente (que governara durante a sua ausência) acabara de falecer. Mesmo assim, deixou ainda alguns soldados na Palestina, de forma a assegurar a defesa das minoritárias possessões cristãs.

Ficheiro:Emile Signol - Louis IX, dit Saint Louis, Roi de France (1215-1270).jpg

Imagem nº 1 - Luís IX em campanha no Egipto.
(Pintura de Emile Signol)



No ano de 1268, um dos principais estados cristãos do Oriente - Antioquia, cai nas mãos dos muçulmanos liderados pelo mameluco Baibars que comete um massacre perante a população, mesmo quando esta tinha aceite render-se em troca da preservação da sua vida. Acordo esse que foi desrespeitado pelo líder muçulmano, logo que entrou na cidade.
Estas notícias chocantes chegaram ao Ocidente e Luís IX, decide agir em 1270, abandonando de novo a França e iniciando a Oitava Cruzada. Desta feita, dirige-se à Tunísia, procurando uma aliança com o seu sultão de forma a lutar contra o Egipto. São Luís iria tentar mesmo a conversão de Maomé al-Mustansir, sultão da Tunísia. Certo é que este não o receberá de braços abertos e nega qualquer acordo com o monarca francês. Alguns conflitos militares são travados junto à capital Tunis, embora a vitória parecesse pender inicialmente mais para o lado francês. Estávamos no Verão em pleno Norte de África, e dum momento para o outro, começam a surgir calamidades e o contágio de muitas doenças, que acabarão por vitimar fatalmente o rei de França e muitos dos soldados de ambos os exércitos. A última palavra de Luís IX terá sido "Jerusalém". Após a morte do seu rei (25/08/1270), os franceses acabariam por abandonar a oitava cruzada em troca dum tratado proveitoso que impuseram à Tunísia. Contudo, os lugares santos estavam, na altura, irremediavelmente perdidos para os muçulmanos.


Ficheiro:DeathSaintLouis.jpg

Imagem nº 2 - A morte de Luís IX no seu acampamento perto de Tunis, acometido por uma doença fatal.
Quadro de François Guizot


O Papa Bonifácio VIII asseguraria a sua canonização em 1297 com o nome de São Luís da França visto que ele fora o modelo de monarca cristão. De acordo com o seu testamento, São Luís terá escrito estas palavras ao seu sucessor:



«Guarda, meu filho, um coração compassivo para com os pobres, infelizes e aflitos e, quanto puderes, auxilia-os e consola-os. Por todos os benefícios que te foram dados por Deus, rende-lhe graças para te tornares digno de receber maiores. Em relação a teus súbditos, sê justo até o extremo da justiça, sem te desviares; e põe-te sempre de preferência da parte do pobre mais do que do rico, até estares bem certo da verdade. Procura com empenho que todos os teus súbditos sejam protegidos pela justiça e pela paz»



Imagem nº 3 - Pequena escultura de São Luís & Luís IX, rei de França.


PS: Não podemos excluir de todo a possibilidade da Praça de São Luís encontrar as origens do seu nome em São Luís Gonzaga, um aristocrata italiano que se entregaria à causa religiosa e missionária. Morreria em 1591 (com apenas 23 anos!), quando socorria pessoas vítimas de tifo. Acabou por ser contagiado pela doença que lhe seria fatal. Hoje, é considerado o padroeiro dos estudantes e da juventude. 
Todavia, a Praça esmorizense não se designa São Luís Gonzaga, mas sim São Luís, o que parece remeter mais para a hipótese de ser o rei de França, o visado na nossa toponímia.



Imagem nº 4 - São Luís Gonzaga não parece ser o nome visado na nossa praça, contudo é justo ressalvar a sua santidade e o seu nome!


Fontes Consultadas:

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