sexta-feira, 20 de abril de 2012

A justa homenagem ao Tanoeiro

Um dos monumentos mais atractivos da cidade de Esmoriz pode ser encontrado nas proximidades da Junta de Freguesia e da Igreja Matriz. Trata-se duma escultura que homenageia uma actividade tradicional que, por seu turno, vigorou durante muito tempo na nossa região. A indústria tanoeira faz seguramente parte dum capítulo da história da nossa localidade e, por isso, abordaremos o impacto que este ofício teve, ao longo dos tempos.
Antes demais, importa definir a função deste artífice. Assim sendo, o tanoeiro fabricava e reparava pipas, tonéis, dornas e outros objectos análogos. De facto, era uma profissão humilde e detentora duma tradição de respeito.
Nos primeiros tempos, os tanoeiros naturais de Esmoriz exerciam a sua profissão noutras cidades. Tal parece ter sido moda nos séculos XVIII e XIX. Dos ilustres esmorizenses que se concentraram, desde cedo, nesta arte, devemos destacar os seguintes:

  • José Fernandes de Oliveira (reportado em 1747) 
  • Manuel da Costa Godinho (meados do século XVIII) - Exerce o seu cargo no Porto, mais concretamente em São Nicolau.
  • João Pereira (meados do século XVIII) - Desempenha funções em Miragaia.
  • Manuel Pereira Couto - Em 1769, é mestre tanoeiro no Rio de Janeiro (ainda na época em que o Brasil era uma colónia de Portugal).
  • José Francisco Vita - Natural de Gondesende. Trabalhava na indústria tanoeira em Oliveira do Bairro.
  • Joaquim Luís Soares - Exerceu a sua actividade na localidade de Barcouço (situada na zona da Mealhada). 
  • Bernardo José da Silva - Apenas sabemos que também trabalharia por fora da terra.
  • António Rodrigues da Silva - Em 1877, destaca-se em S. Lourenço (Setúbal).
  • Manuel Francisco de Oliveira - Detinha uma tanoaria em Gaia.
  • Joaquim Gomes de Oliveira - Em 1894, monta a sua fábrica em Guimarães. Saliente-se ainda que este senhor foi condecorado com medalhas de ouro e menções honrosas devido ao talento que depositava nesta arte.
Como observamos, nestas épocas iniciais, este profissionais da tanoaria exerciam as suas funções noutros espaços, visto que este sector ainda não se tinha afirmado em Esmoriz. Por isso, muitos destes trabalhadores  deslocavam-se semanalmente às tanoarias de Gaia e Porto (e não só!).
No século XX, a história já é outra e desta feita, assistimos à afirmação desta indústria na nossa localidade. Em 1919, já existiam 19 tanoarias em Esmoriz. Todavia na segunda metade deste século, esta actividade começa a viver tempos difíceis, embora ainda consiga resistir. Por isso, no ano de 1984, destacam-se ainda as tanoarias esmorizenses de Mário da Cruz Rodrigues (com 20 operários), Luís de Sá Ramalho (com 12 operários) e Joaquim Dias Ferreira (com 10 operários). Este último parecia ser bem sucedido nos seus negócios, exportando vasilhame para Espanha, Canadá, EUA, Bélgica e Alemanha Ocidental.
Todavia, e quando Aires de Amorim abordou o estado deste sector no ano de 1986, já constatava um declínio tremendo deste ofício, chegando aquele erudito a referir o seguinte:

"Nota-se que escasseiam os aprendizes e os próprios tanoeiros abandonam a arte, à medida que encontram outra mais limpa. É uma indústria em vias de extinção"

Diga-se, em abono da verdade, que esta actividade ainda existe em Esmoriz, embora a sua presença seja muito reduzida e sem a influência económica dos outros tempos. Todavia, o seu passado com "ligação umbilical" à nossa cidade justificou a construção dum interessante monumento que exibimos na fotografia em baixo.



Imagem nº 1- Monumento ao Tanoeiro. A entidade promotora terá sido a Junta de Freguesia de Esmoriz e a escultura foi inaugurada no ano de 1989.
Fotografia da autoria do Cusco de Esmoriz


Fontes Consultadas:

  • AMORIM, Aires de - Esmoriz e a sua História. Esmoriz: Comissão de Melhoramentos, 1986, p. 315-317.
  • SILVA, António de Morais (e outros) - Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Vol. 7. Matosinhos: QN - Novas Tecnologias da Informação, 2002, p. 73.

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